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"Viemos quatro treinadores para o Oviedo, vivíamos numa casa, 24h a trabalhar". Há um português no Oviedo à La Liga

"Viemos quatro treinadores para o Oviedo, vivíamos numa casa, 24h a trabalhar". Há um português no Oviedo à La Liga

Dez semanas, 14 jogos e uma missão: a subida à La Liga. Foi este o desafio de Nuno Gomes, português que é adjunto de Veljko Paunovic, que conseguiu o regresso do Real Oviedo à principal divisão do futebol espanhol.

O clube das Astúrias esteve mais de duas décadas afastado dos grandes palcos, chegou a cair na quarta divisão e esteve perto de fechar por problemas financeiros.

Depois de uma tentativa falhada na época passada e aos ombros da lenda local Santi Cazorla, o Real Oviedo conseguiu o regresso com uma reviravolta na final contra o Mirandés.

Em entrevista à Renascença, Nuno Gomes explica o sucesso por trás da subida com apenas dez semanas de trabalho, a possível continuidade de Cazorla na La Liga e como se poderá manter o clube na próxima época.

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Já está recuperado dos festejos?

Depois de 24 anos sem subir à La Liga, a cidade estava muito ansiosa, as celebrações foram efusivas e com muito vigor. Foram mesmo muitos anos, coincidiu com um fim de semana largo, foi sábado e domingo. Foram dias incríveis, foi forte.

A própria final do "play-off" foi dura. Perderam a primeira mão e começaram também em desvantagem no segundo jogo em casa...

Sabíamos que o Mirandés teve um percurso exemplar. Foi com mérito que chegou até à final, eram muito intensos, futebol muito direto, físico e um plantel com muito jovens. Depois de 46 jogos ainda ter uma final torna-se um campeonato muito extenso. Nota-se o cansaço dos jogadores no fim da época e o Mirandés não esperava lutar pela subida.

Beneficiámos da experiência, termos um plantel com mais maturidade e experiência de subida. Tínhamos um plantel mais extenso e fizemos alguma rotação e o Mirandés já chegou ao prolongamento com o mesmo 11, notou-se que a qualidade do nosso plantel veio ao de cima. Foi uma parte chave no segundo jogo.

O Santi Cazorla é, naturalmente, o jogador mais conhecido e focou-se muito nele o "play-off". Continua a ser decisivo?

Todos conhecem o percurso desportivo do Santi, foi importante no Arsenal e na seleção espanhola. Pouco posso acrescentar nesse sentido. O que se nota é o amor que ele sente pelo clube, é um excelente profissional, ou não teria este rendimento aos 40 anos. É muito bom colega, um grande exemplo na recuperação, treino e alimentação. Para mim, o que mais me marcou foi a parte humana, não é o que por vezes se imagina de um jogador de elite: é afável, cara a cara, bom coração, trata todos bem.

Quando chegámos vimos um grupo incrível, jogadores muito conectados, adeptos e funcionários que sentem muito o clube, queriam mesmo devolvê-lo à primeira divisão. O Santi encabeçava essa ligação.

Ele queria até voltar sem ganhar salário, por aí se vê essa ligação forte.

A liga tem regras, teria de ter um vencimento mínimo. Ele é um ícone da cidade. No festejo na câmara após a subida, o presidente atribuiu-lhe o nome de uma praça. Imaginemos o Marquês de Pombal, agora lá chama-se praça Santi Cazorla. Nada apagará isso. Saiu muito jovem de lá, mas sempre viveu o clube e conseguimos presenteá-lo com este feito, que ele diz que é o jogo mais importante da carreira dele.

Poderá continuar convosco na La Liga?

Depende do que o Santi sentir, são 40 anos, são muitos quilómetros nas pernas, é uma decisão dele querer continuar. Isso requer tempo, sacrifício familiar e dedicação, depende se ele quererá estar com o Oviedo na La Liga. Da nossa parte seria uma alegria tê-lo. Ele sabe que se não estiver para 90 minutos, está para 60, 45 ou 30.

Sempre fomos diretos com ele, na gestão dele, gerimos muito em treino e ele sempre aceitou fenomenalmente. Titular, ou entrando mais no final do jogo, seria uma alegria ter um atleta assim, mas dependerá de como se sentir após as férias.

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É um clube marcado pelo sofrimento destes 24 anos. Chegaram a cair à quarta divisão, próximo de acabar, tem até um hino com essa mensagem forte. Sente-se esse peso?

Sente-se muito esse sofrimento, principalmente no lado social. Quando o clube esteve para fechar, o presidente da câmara criou um novo clube para, caso o Oviedo desaparecesse, fosse substituído. Não lhe perdoam, há um conflito entre a câmara e o clube por não ter ajudado e queria refundar o clube.

O clube também tem tido algumas mortes trágicas, funcionários e pessoas queridas ao clube. Sofreram muito e mesmo assim vê-se que a massa associativa não é idosa, há muitas crianças a sentir o clube, nas escolas. Impressionou-me a quantidade de vídeos que recebemos das escolas dos miúdos a cantarem essa música, o "volveremos".

A paixão de quem vive o clube é incrível. Lembro-me de ver o Benfica e o Sporting campeões e a festa com euforia no Marquês, mas nunca vi uma cidade inteira a festejar, do estádio até às praças, toda a gente na rua e nas janelas a festejar a subida.

O treinador principal, o Veljko Paunovic, esteve curiosamente na época da descida como jogador e agora é ele que devolve o Oviedo à La Liga. É também especial.

Ele foi feliz aqui em Oviedo, adorava a cidade e sentia sempre uma dor e mágoa pela descida. Quando saímos do México e aceitámos o Oviedo viemos em missão. Viemos com contrato de 10 jogos, não assinámos para sair se não subíssemos, ou continuar se subíssemos. Não quisemos saber do prolongamento do contrato nem da parte financeira. Era uma missão, não queríamos nada mais.

Viemos quatro treinadores juntos, vivemos juntos numa casa, não vieram as famílias, foi 24 horas a trabalhar para o Oviedo e foi uma satisfação enorme. O que sofremos os quatro.... O clube tinha uma maneira de trabalhar distinta, não estava como imaginávamos ao nível do profissionalismo. Para subir é preciso comportar-se como um clube de I Liga e estava um pouco parado nesse aspeto, conseguimos cativar as pessoas que se identificaram connosco.

Conseguimos criar um espírito de família e amizade, todos foram importantes. Pedimos para cada um dar mais um bocadinho de si, em vez de sair às duas, sair às três. Em vez de sair às três, sair às quatro. Não fechar o centro de treinos às duas e deixar-nos lá a trabalhar e depois nós fechávamos a porta. A coisa foi-se dando.

E nesse sentido, o clube está preparado para a La Liga?

Há muito trabalho pela frente se ficarmos, estamos a negociar, o clube tem uma vontade enorme e estamos a trabalhar na renovação, mas a exigência da segunda não tem nada a ver com a La Liga. O centro de treinos tem de evoluir, as condições dos jogadores também, em termos de nutrição, instalações e os campos. Há ainda o reforço no plantel, claro.

O clube não pode estagnar e estar feliz por subir, tem de ter metas para amanhã, é preciso restruturar para manter, temos de crescer alguns níveis. Quem está a liderar o clube, o Jesús Martínez, é uma pessoa de sucesso, é um apaixonado, quer investir, quer uma cidade desportiva no futuro, mas demora tempo.

RR.pt

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